23 de setembro de 2021
Curto café da manhã
Sempre tive dificuldades em comer pela manhã, alimentos líquidos geralmente tendem a descer melhor. Por que será? Rs
Tenho dois filhos, isso é importante deixar aqui registrado, pois após a chegada do menor, hoje com 7 meses, no ápice da pandemia, nos sentimos obrigados e com a necessidade de criar uma rotina e um rodizio, já que dormir mais que 3 horas sequenciais virou um sonho.
Sonho, acordado. Pegou o trocadilho?
No primeiro balbuciar do pequeno Wolf, lá pelas cinco, cinco e meia da matina, lá vou eu. Sorrindo ao me ver, aparecendo pela porta do quarto, parece que sou transportado para um ambiente muito parecido com o que os Oompa-Loompas vivem dentro da “Fantástica Fábrica de chocolates”. Não tem como manter o mal humor, falta de energia e de paciência que a privação do sono nos proporciona.
Impressionante como aqueles minutinhos a mais na cama são logo supridos pelo amor incondicional.
Lá vamos nós, todo dia a mesma coisa: tira do berço, dá aquela fungada, meio que Felícia, querendo esmagar o indivíduo. Troca fralda, leva pra sala e brincamos no chão de cimento queimado forrado com um tapete fofinho de borracha que dá vontade de morder de tão fofo.
Deixo Wolf no tapete, muito bem escorado por três almofadas, como um para-choque. Na cozinha reparto o comprimido de vinte mg em quatro partes iguais e numa matemática aparentemente fácil, mas para quem tem os dois pés em humanas é bem complexo, dissolvo três quartos num pouquinho de água para numa seringa despejar na boca do pequeno.
Não são nem seis horas ainda parece que já corri uma maratona.
Pego o rapaz no colo e lá vamos nós para a cozinha encher a garrafa elétrica de água, e enquanto esperamos ferver observamos o trem passando pela janela. O maquinista buzina como quem quer acordar todo mundo. Meio que “se eu não durmo, ninguém dorme”, a semelhança com Wolf é nítida.
Com ele num braço abro o armário, pego o frasco de café, passo pra mão que segura ele, pego agora o filtro, o porta filtro. Abro o porta café, dou uma fungada, coloco no nariz dele para entender, e quem sabe no futuro isso lhe gerar memórias afetivas de pai e filho, de um período de sua vida. Óbvio que não penso nisso. Faço.
Água está fervendo, já fiz os 3 ovos na frigideira para a mamãe que logo mais acorda com a nossa mais velha, Maya de quase três anos, gritando: “Maiêeeeeee”, ou “Paiêeeee”.
Não sei qual cheiro me desperta mais: do meu moleque e suas madeixas, que são bem grandes para sua idade, ou do café que sobe em fumacinha como que de desenho animado. Faço movimentos com a mão abanando, trazendo para nós as fumacinhas que saem. A cafeína nos envolve, estamos bem acordados, sem ao menos ter tomado. No caso eu, porque de acordo com minha avó criança não pode tomar café preto. Seguimos assim, nossos avós eram os maiores influenciadores.
Mamãe acorda, Maya está pedindo para a Alexa, ou na língua dela: “Aleca, play Moana”. Sirvo os ovos, a caneca de café com leite de amêndoas e adoçante pra Vivi. Pra Maya uma melancia cortada em pedaços, e pra mim apenas café. Preto, puro, sem açúcar ou adoçante.
O dia nem começou ainda. Na minha caneca impressa uma foto dos meus dois filhos bebo o café e penso como gosto de café com eles, esse caos. Como diria a música do Rei Leão: O ciclo sem fim.